segunda-feira, 5 de março de 2012

Falo melhor calado!

Vou a lugares agitados de modo que eu possa pensar em silêncio. Não o agitado de um show de Have Metal, mas o agitado de um bom bar bem básico. O silêncio anda por todos os lugares. Ninguém lhe dá atenção, passa-se despercebido. Procuro aprender com o silêncio. Gosto de ver as pessoas passarem, outras conversarem. Não sou muito simpático a longas conversas, seguir noites adentro com pessoas que não param de falar comigo. Prefiro reparar nas pessoas que conversam ao meu lado, mas nada de ficar a minha frente falando, falando e falando. É por isso que costumam me dizer que sou calado, quietão. Faz-me bem observar tudo que está ao meu redor, e para observar devo me calar. Não sei por que as pessoas falam tanto. Até os mudos falam demais. Não param de chacoalhar as mãos, aqueles dedos apontando pra cima e pra baixo sem sossegos. O problema é que se eu encontrar alguém igual a mim, não sai palavra alguma. Caso contrário, paro o tempo e fico o tempo todo escutando. Concordando sempre com um enfático presente do indicativo do verbo ser: é. Nas muitas vezes, entro em estado de transe, abandono meu corpo e, consequentemente, os amigos que sentam a mesa. Fico ali de corpo presente, no entanto, minha mente debruça-se para controlar os mil demônios que carrego. Entre um bar e outro, entre um gole e outro, as pessoas falam pelos cotovelos. Não sei o que se passava na cabeça de Deus quando criou o homem. E naquele zum zum zum de palavras cortadas entre dentes, as gargalhadas abrem-se, os olhos revelam-se e o sonho continua. E o meu copo cheio sobre a mesa dura tão pouco quanto o instante das coisas. Sirvo-me da cerveja e das pessoas que duram naquele instante. Não sei até onde vai a minha mente. Às vezes tenho medo de ficar preso por lá. Tudo se torna silêncio. É como se apertassem a tecla mudo. As coisas esvaziam-se feito um balde no qual se retira a água. Feito um corpo sem alma. E num piscar de olhos, volto ao mundo. Volto ao silêncio do instante, ao falar e falar das pessoas, dos objetos, do balcão, das luzes. Calado eu falo muito. Calado eu controlo os demônios que os anjos trouxeram-me quando criança. Calado eu vejo a alma que as coisas têm. E depois de alguns copos de cerveja, a alma das coisas faz questão de ser vista. A alma só não se revela quando as pessoas falam sem parar, quando não se escutam. O silêncio é a prece da alma.