sábado, 8 de dezembro de 2012


Tira teu corpo de mim
Dê-me a paz
Nos vagões
Nos porões
Medo, suor e calafrio
Lembro-me do teu seio descoberto
Eterno, céu aberto
Pro fim

Tira teu corpo de mim
Alta, lua cheia
Nos salões
Nos balcões
Garrafa, copo e silêncio
Morro todo ano no inverno
O inferno é pequeno
Pra mim
[...]



Todos os meus eus te amam incondicionalmente

O problema é que mercúrio me rege
E por mais que eu tente
Eu não tenho cura

Eu vou à padaria comprar os pãezinhos sequinhos que você me pediu
Sobre o balcão, eu vejo uma caixinha de leite
Penso nas vaquinhas que me fazem pensar no campo que me faz largar tudo
Como não tem campo na padaria, eu peço uma bebida, e dessa muitas outras
Quando me vejo, estou sem os pãezinhos sequinhos que me pedira
Mas com uma gigantesca imensa vontade de te amar...

[...]


Eu não me canso de pentear
Teus cabelos encaracolados,
Carol

Mesmo quando sais correndo
Levando a escova nos cachos
De sol

Linda, é toda linda, miúda
Com gracejos falando sozinha
Ao vento

[...]

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012



Mariana,
O mar seca na palma da mão
Deixando a pele fria, salgada
As ondas, ah quantas são as ondas
E todas elas silenciosas

Mariana,
Logo o corpo desliza na areia
E o mundo mais antigo e sombrio
Receberá batizado o corpo
Embanhado de mar e de sol

Mariana,
Quanta gente vive sem querer?
Ah, quem me dera por um minuto
Eu ser mar, areia, sol e corpo
E quando o dia morrer, ser noite...

[...]

terça-feira, 27 de novembro de 2012

ACHEI FANTÁSTICO, COPIEI E COLEI DO SITE "Casal sem vergonha". Nem sei se isso pode, mas gostei paaaaaaaaacas!!!!

(http://www.casalsemvergonha.com.br/2011/07/01/46-coisas-que-as-mulheres-nem-imaginam-que-achamos-sexy/)


Mulheres são naturalmente sexy. E esse fato ficou ainda mais claro depois que fizemos uma pesquisa com os leitores do blog perguntando o que eles achavam mais sexy em uma mulher – recebemos milhares de respostas com vários detalhes femininos que os deixam babando.Fizemos um compilado dos itens mais votados e o resultado, você confere agora.
COISAS QUE AS MULHERES NEM IMAGINAM QUE ACHAMOS SEXY
1. Rabo de cavalo com fios soltos;
2. Ela usando minha camisa e mais nada;
3. Barulho do salto alto;
4. Sardinhas no rosto;
5. Quando elas conduzem o sexo;
6. A forma como ela ri;
7. Quando ela senta no nosso colo pra dar um beijo;
8. Um belo par de seios;
9. Quando elas, de vestido ou saia, se esticam pra pegar alguma coisa no alto;
10. O jeito como acordam de cabelo bagunçado e pijama velhinho;
11. Ela deitada de bruços só de calcinha;
12. Cabelo cheiroso;
13. A manha que elas fazem quando chega a hora de nos separarmos;
14. Ela mexendo no cabelo;
15. O jeito como andam descalças na ponta do pé quando o chão está frio;
16. Ela lambendo os dedos depois de comer uma coisa muito gostosa;
17. Inteligência;
18. Quando ela anda pela casa só de calcinha;
19. Pés bonitos;
20. A pose delas de fazer xixi, com as perninhas viradas pra dentro e com a calcinha abaixada;
21. Cabelo molhado;
22. O jeito dela de se preocupar com a gente;
23. Um decote bem utilizado;
24. Quando ela morde a pontinha do óculos;
25. Coque bagunçado;
26. A forma na qual o cabelo cai naturalmente no rosto e o jeito dela de tentar arrumar;
27. Ela tomando sorvete;
28. Quando ela fica com frio e usa nosso moletom;
29. Vestido comprido e pés descalços;
30. Ela passando do banheiro pro quarto só de calcinha pra se arrumar;
31. Covinha nas costas (vulgo “apoio pra dedão”);
32. O jeito de andar;
33. Jeans + blusinha branca;
34. Tatuagem (principalmente as que só dão pra ver uma parte e deixam todo mundo curioso pra ver o final);
35. Um pouco de gordurinha pra ter onde pegar;
36. Atitude;
37. Quando arranham sem machucar;
38. O rosto dela visto de cima quando dorme no nosso peito;
39. Quando ela acorda de calcinha e se espreguiça gostosamente;
40. Blusa que deixa um ombro de fora;
41. Ela totalmente depilada;
42. Blusa sem sutiã;
43. O cheiro delicioso que deixam na casa depois do banho;
44. Quando elas não usam maquiagem;
45. Ossinho saliente na cintura;
46. Sentir todo o corpo dela quando dormimos de conchinha.
Para fins de direitos autorais de imagem declaro que as fotos usadas no post não são de minha autoria e que os autores não foram identificados.

domingo, 19 de agosto de 2012

A outra face

O sol sangra esse sangue salgado
que escorre do meu rosto raso

O céu é cego
O céu é surdo

Nas paredes desse abismo
arranho minhas unhas
já não tenho minhas unhas
arranho minha alma magra
magra de fome da manhã
magra de um mar sem mim

É escuro, é estranho esse abismo
É abismo, é escuro esse estranho
É estranho, é abismo esse escuro

O céu é surdo
O céu é cego

O choro não chega
chega a chuva,
chio baixinho
O choro não chega à chuva
não chega ao sol
não chega
ao céu só
 deixa
 a
b
i
s
m
o

Do Espelho



Eu tento correr até sair daqui. Não consigo. Fugir de mim não é coisa fácil. Quando entrei aqui, pensei que seria simples viver. Sempre ao deitar, desejo estar livre desse lugar pela manhã. Bom seria se um anjo me arrastasse pra bem longe. Não quero compaixão de anjos, eu quero que me arrastem daqui. Não posso mais me ver enquanto o que vejo é tudo o que vivi e ainda vivo por esse espelho. Quebrá-lo não posso, pois caso o fizesse, teria muito mais trabalho ao recolher os pedaços; que são meus também. E essa vida não vale o trabalho de recolher esses pedaços. Viver por aqui já é um grande trabalho [...]

Não acredito em Deus, e o Diabo é a criança mais mimada que existe. Quando se fica dentro de um espelho, Deus e Diabo tornam-se sinônimos. Não costumo demonstrar a eles confiança. Se eu tiver que sair daqui, será por mim mesmo [...]

Eu tento correr, mas a cada corrida, fico mais lento. Percebi que não devo correr dentro de um espelho, é melhor voar [...]

[...]

segunda-feira, 30 de julho de 2012



Quando criança, na escola,
Entraram na sala de aula
E tomaram de mim o sonho
Que eu tinha na mochila.
Ali mesmo,
Lhe deram choque elétrico, tranquilizante
E o amarraram com uma camisa de força.

Quando adolescente,
O homem levou alguns dos meus amigos,
Junto com eles os meus sonhos.
Deixaram os meus amigos a mercê de tudo,
Principalmente da ilusão.
Aqueles amigos, sem sonhos.
Eu, sem sonhos e sem aqueles amigos.

Ontem, no meio da madrugada,
Invadiram a minha casa
Levaram os sonhos
Que eu guardei numa caixinha de papelão
Dentro da gaveta do guarda roupa
Do pequeno barraco
Na rua dos sonhos
Da cidade do sonho

Amanhã,
Eu escondi um sonho no bolso
para que ninguém o encontrasse
Mas, de repente, me enquadraram
Recebi uma carícia bruta no meio da face
Levaram o meu sonho

Pobre homem.
Do nada que me resta,
novos sonhos renascem...





O pior de tudo é esse negócio de celular conectado ao facebook. Eu tenho minhas dúvidas se isso é modernidade, modernoso. Sinceramente, eu não quero ser modernoso. Sinceramente, eu não quero essa modernidade. Eu quero entender como é que um celular funciona. Eu quero entender aqueles códigos que aparecem na tela do computador de um analista de sistema...

"Alô, meu amor?"

Um momentinho só, por favor, desculpa.
...
"Meu amor, eu não quero passar horas e horas falando com você 'en el teléfono celular' (é assim que escreve? Não me lembro agora). Eu quero olhar seus olhos embriagados de cachaça e de amor..."

Desligou na minha cara. Voltando:

Eu gosto de sair por aí, sem destino. Aventuro-me (porra, ficou estranho esse verbo) no transporte público de São Paulo. Detalhe: eu gosto de sair por aí, pois se eu dependesse dele para trabalhar, eu estava lascado... Tanta coisa eu vivo pela janela, tanta janela pede para viver. Tem janela que necessita de uma olhadela, nem que seja de relance. Também existem aquelas que pedem para não serem vistas; elas ' " 'pedem ' " ' (pô, é aspas nas aspas?), entende? É tipo reality show:

- Por favor, não me olhem lavando a "prexeca"!! - eu acho que é assim que escreve. Eu escuto minha família, que graças a Deus é de maioria formada por mulheres, pronunciando essa palavra "prexeca". Deve ser uma mistura de idiomas.

Então, pela janela do busão "cê tá ligado, tiu?", eu vejo o que me invade. Eu me esforço ao máximo para olhar dentro do armazém (eu sei que hoje não exite mais armazém. É loja, né? Enfim, mas eu gosto de palavras antigas). Esforço-me para beber do olhar da vendedora de roupas que sonha com o celular novo que tem acesso à internet. A vendedora vai ficar ligada com as notícias do mundo. Como se fosse resolver alguma coisa na minha vida - desculpem-me os chineses, eu não tenho nada contra os chineses - eu saber que uma moçoila chinesa, que levava na moto mais uns cinco moçoilos, quase foi atropelada.

"Alô, meu amor? Aloooou... Alooooou.."

Um momentinho só por favor.

"Meu amor amor, não me mande um beijo por computador (parafraseando o peixelétrico)..."

A questão é a seguinte: Deculpem-me, por favor, mas eu não consigo ficar com a cabeça abaixada digitando as teclas do celular ou vendo alugma postagem, enquanto a vida passa pela janela! ("Pô, Bruno, você tem que parar com essa mania de pedir desculpas." Ah, é que me sinto um estranho nesse mundo modernoso.). Só uso celular porque me obrigaram!!...
 
 

sexta-feira, 20 de julho de 2012


Não sou poeta por escrever versos.
Não são poesia os meus versos.
Não desejo, em momento algum, escrever poesia.

Sou apenas, definitivamente apenas, um alguém qualquer, definitivamente qualquer,
vivendo um mundo, mais uma vez, em crise;
fervendo a água do café;
soltando leões da jaula.

Poetas são velhos,
mesmo os jovens,
são velhos.

Poetas vivem à frente de seu tempo.
Gozam feito adolescentes, velhos.

A
       ce
nam

Tentamos alcançá-los...
É impossível!
Sempre andam à frente.
(Poetas não correm, andam!)

Mesmo quando
passeiam de tílburi,
frequentam theatros e tabernas,
compram drogas na pharmácia,
eles estão à frente.

Poetas já viveram aquilo que o mundo está vivendo.
Poetas são velhos

quinta-feira, 12 de julho de 2012



Minha viagem
Pode ser que alguém pense que eu uso alguma droga. Até já me passou pela cabeça coisa parecida, entretanto, logo em seguida, perco-a totalmente da minha cabeça.
Pego-me pensando no espaço, nos planetas, no pó das estrelas, no sopro da vida, na dança do Universo... Penso no infinito, que talvez nem seja infinito. Imagino-me atravessando a parede do “infinito” e caindo nas mãos de Deus. É como se o espaço fosse uma bola de cristal nas mãos de Deus e que Deus estivesse brincando com a gente. De vez em quando chacoalhando a bola de cristal - igual àqueles filmes americanos de natal com aquelas bolinhas que nevam -. E Deus está num quarto branco (sendo assim, então, a luz não nasceu da escuridão, e sim a escuridão da luz? Deixa pra lá!); e Deus, na verdade, por mais que a palavra nos remeta a um homem, é um menino brincando com seu único brinquedo num enorme quarto vazio. Uma esfera na qual  está o nosso espaço onde a terra flutua; e esse menino passa horas e horas ali, brincando. Até que sua mãe, repentinamente, atravessa pela porta e diz:
- Deus, vai já arrumar sua cama. Parece bobo com essa bolinha na mão.


segunda-feira, 14 de maio de 2012




“Quando ela dorme em minha casa”
[...] O que penso sobre as coisas é tão fútil. O rídiculo do meu riso fraco que insiste tomar a frente faz-me mais bobo do que já sou. Ver-te linda na cama é tudo que me vale na vida. Abro mão daquilo que não dá mão, só para passar horas vendo teus cabelos escorrerem silenciosos pelo teu corpo calmo. A janela ainda fechada, o nosso é mundo aqui, será sempre aqui. Ver-te linda, desenhada na cama. Ah, queria eu tê-la desenhado; eu a desenharia assim: como a vejo. Os mesmos traços, relevos discretos, linhas e linhas emaranhadas sobre tua pele que eu nunca quero desmaranhar. Ainda bem que não fui o autor de ti, fui mais feliz. Posso morrer a contemplá-la, calado. O ruído das palavras feri o teu silêncio que se espalha intocável [...] De dia, lutarei; de noite, embriagar-me-ei; nas manhãs, amarrarei meu corpo ao teu, sempre.



domingo, 6 de maio de 2012




O ESCRITOR
João Trago Dolores


Toda biblioteca tem um ar especial e a que eu freqüento não é diferente. Talvez seja o fato de muito conhecimento no mesmo lugar, no mesmo espaço. Ideias que entram em atrito, ou em harmonia. Contudo, o que são esses livros expostos nas prateleiras? Eles parecem carne pendurada no açougue, prontas para matar a fome dos famintos por conhecimento. Por aqui cortar ninguém corta, mas Dona Judith e a Dona Emiliana servem-nos verdadeiros filés. Elas conhecem cada livro, onde estão, para onde foram, do que se tratam. Essas senhoras são verdadeiras relíquias do nosso bairro. Deveriam ser canonizadas - elas cuidam tão bem desses livros enrugados e amarelados - ou até mesmo condecoradas cidadãs honorárias do bairro de São Miguel Paulista. Quando meu filho nascer, o primeiro lugar que o levarei será a uma biblioteca. Não que eu tenha nascido numa, porém posso dizer que cresci junto a essas instantes. Folheei essas páginas sentado no chão, escorado nas colunas, agachado, debruçado sobre o armário de consultas. Há também mistérios nesse lugar. O senhor Juca, homem de idade que vive no prédio cuidando da manutenção, contou-me uma vez que escutara na madrugada, quando veio reinstalar a parte elétrica, vozes a conversarem pelo salão. Ele conta que essas vozes discutiam entre si, no entanto, ele não teve a coragem de espiá-las. Ficou espremido no forro do teto, e só saiu de lá quando não escutara nenhum ruído, silêncio total. “Cruz credo! Deus me livre!” Sr. Juca sempre finaliza toda história com interjeições e o sinal da cruz.
Quantos leitores não folhearam essas páginas, esses livros, esses sonhos cuja leitura leva-nos. Realmente, o ambiente é diferente. Até parece que os sentidos ficam mais aguçados, atenciosos. Qualquer ruído é perceptível, no entanto, não nos tira a atenção. Mas foi numa certa manhã, quando fui à biblioteca, como de costume, folhear as páginas do jornal, que fiquei muito encucado. Sentei-me de costume na mesa lateral, com a cadeira de costas para a janela que dá à vista para a rua. E no vai-e-vem de tantas pessoas, um homem chamou-me a atenção. Não parecia ser dali. Já que há tempos freqüento essa biblioteca. Ele se sentou à mesa de frente da qual me sentara. Trouxe consigo um caderno e uma caneta. Deixou-os sobre a mesa e foi até às prateleiras. Até aí tudo bem, não há nada de errado nisso. Continuei a minha leitura. Quando ele voltou a sentar-se, foi o momento que minha curiosidade atiçou-me. Ele fechou os olhos como se estivesse esperando alguma coisa vir na mente, ou talvez estivesse rezando. De repente começou a escrever; parou; retornou a escrever e seguiu desenvolvendo os seus escritos. O mais interessante era a sua fisionomia. Lembrava-me alguém muito próximo, não sei quem, mas lembrava-me. E nessas de: escreve, para; para, escreve. Ele fixou os olhos no papel, leu o que acabara de escrever. Deu risadas para dentro. Olhava com certo desprezo, mas também, em certos momentos, com admiração. Minha curiosidade sobre o que ele escrevia só aumentava. Ele novamente parou e, em seguida, como quem espera uma resposta e não a tem, levantou-se impacientemente. Foi em direção aos livros de filosofia. Por mais que me atentasse a curiosidade, mantive-me sentado em minha cadeira. Voltou falando sozinho. Já sentado, eu o olhava disfarçadamente. Seus olhos fixavam-se para o nada, era uma visão diretamente para o infinito, que não terminava nas paredes da biblioteca, atravessavam-na. Não mais que de repente, ele voltava a escrever. Escrever escrever escrever escrever. Eu já nem lia mais o jornal. Queria decifrá-lo, o escritor. Interpretá-lo. Entender o porquê de escrever. Qual o fundamento de preencher as linhas vazias daquelas folhas de caderno. Para que escrever? Tanto já foi escrito. Será que as palavras não têm fim? O que faz um homem escrever, qual é a razão. O motivo talvez seja a semelhança da palavra e o homem. Ambos não sobrevivem sem a alma, são movidos por sentimentos. Nada mais que sentimento. O que seria da palavra se ela não transbordasse tristezas, alegrias, tragédias, romances. Seria, simplesmente, um amontoado de nada. A alma da palavra é o desejo da consciência de encontrar razão na inconsciência. Assim é o homem também. O que seria de nós sem a infinidade de sentimentos. Não nos faríamos homens se não houvesse a dor, o amor; o bem, o mal. Seríamos um tipo estranho de anormalidade indecifrável que passaria desapercebida na vida terrestre. Então o verbo escrever é muito mais que o seu significado semântico. Ele é o adjetivo, o advérbio, o sujeito, o predicado, o núcleo de tudo que se possa imaginar. É a luz. Depois dessa reflexão comigo mesmo, onde me perdi e não cheguei à conclusão alguma. Observei o escritor, a partir daquele momento, com outros olhos. Eu tinha que saber o que se passava naquele caderno, para onde sua imaginação levava-o... (continua)






Não procuro nesse poema, metrificá-lo.
Não procuro nos versos, entoá-los de figuras e expressões.
Nem tão pouco escrevê-lo na impecabilidade, de acordo com as regras.

Procuro apenas ter a certeza de que as palavras são mortas.
Logo, são simplesmente códigos
Nada fazem
Nada fizeram
Nada farão

Somos nós, em nós mesmos e perdidos de nós
Que carregamos aquilo que as movem:
O sentimento...
É do sentimento que se constrói todo o universo.
Pois ele surgiu do sentimento ...
Do sentimento de Deus, que se expande e se contrai...

 


Tantas são as vezes que não me lembro quem sou.
Sempre, ou quase sempre, quero ser o outro.
Deixo o ser e apenas quero.
Quero o querer arrematador.
Tomo posse do outro, e o outro do outro, e o outro do outro e assim por diante.

Quando o Sol acorda o quintal, eu abro os olhos.
Quando o galo acorda o sol, meu pai prepara o café.
E quando o sol acorda, todos dormem, eternamente, um sono profundo.




Eu quero ir

ao outro lado da rua

          O lado
de cá da rua


                                                                                  é cheio de vazio


Quando eu chegar do lado

                          de lá da rua

                   Quererei o lado
de cá da rua,

pois o lado

                         de lá da rua

                                                                                   é cheio de vazio também


terça-feira, 1 de maio de 2012

SEU EUGÊNIO
Seu Eugênio é mágico. Seu Eugênio é genial. Faz brinquedos fantásticos para as crianças da vizinhança. Ele alegra a todos com seu riso de arrancar sorrisos de qualquer rosto desalmado. Seu Eugênio é mágico. Ele fez para o Duda, menininho que vive sujo e descalço pela rua, um boneco que conta histórias. O boneco tem na memória cerca de 30 historinhas infantis. Quem quiser encontrar o Duda, sempre o procuram para pedir favores a ele, é só olhar ao pé da árvore, deitado ao lado do degrau da casa do Seu Eugênio, escutando as historinhas. Seu Eugênio é genial. Lá vem Seu Eugênio descendo a rua na bicicleta que faz som de trem. Toda molecada segue correndo atrás, é um alvoroço total. Os vizinhos cumprimentam-no. Também, são mais de cinqüenta anos aqui na vila. Tem muita história para contar. Quando chegou por aqui era tudo mato, viu cada casinha ser levantada, as ruas se enchendo, pessoas chegando cada vez mais...
“Ao Sr. Paulo César de Medeiros Pitangueira...” Assim se inicia a carta da prefeitura ao Seu Eugênio. A correspondência foi entregue a muitos moradores da região, era o aviso de despejo. Na região, para o bom desenvolvimento da sociedade, será construída uma gigantesca área comercial. As famílias serão indenizadas corretamente. O menino Duda ficou muito feliz, ele vai morar numa casa nova. Até arrumaram um empreguinho na prefeitura para sua mãe, vagas na creche para seus irmãos. A casa nova terá dois banheiros, um quintalzinho no qual Duda poderá deitar-se abraçado ao boneco. Que nada, o Duda vai esquecer o boneco por aí. Seu Eugênio não será mais genial, nem mágico. Seu Eugênio será somente o Sr. Paulo César de Medeiros Pitangueira. Será um velho maluco, cheio de esquisitices, a morar em outro bairro. E quem sabe, também o tirarão de lá novamente, por outro motivo de progresso, enxotado feito cão. Seu Eugênio é homem inteligente, respeita o progresso, a vida em sociedade e suas necessidades. Mas não é tão simples assim, é um pedaço dele que estão arrancando. Será que ninguém entende? Há quem pense que isso seja um sentimentalismo barato. Eu não entendo como sentimentalismo, é algo tão racional. 
Amanhecido o dia, os tratores chegaram para derrubar algumas casas, dar inicio ao bem estar de todos. Todos? Não. Seu Eugênio dormi. Seu Eugênio está morto em sua cama. Seu Eugênio só queria ser genial; mágico. Ele não entendia o mundo que o chamava de sentimentalista. É razão pura.
Idas e vindas,
à Casa Bandeirista do Tatuapé
Nunca imaginei que sentiria o que senti. Aquelas paredes, aquelas portas, a mesa, a escada, o chão... O que guardam? O que escondem? Se tivessem bocas, contar-nos-iam historias de outrora. Historias de um passado que nos passa despercebido. Abandonado feito trapo jogado no quintal. Percorrer a mão sobre aqueles moveis, é sentir as mãos que se debruçaram ali, é sentir as marcas e as cicatrizes do tempo invadindo a alma. Quantas mãos abriram e fecharam aquelas janelas com medo da chuva forte ou à espera do sol caloroso? As mãos delicadas de uma linda mulher; as mãos calejadas de um tropeiro cego de fome que se achegou à procura de comida; as mãos lisas, acostumadas apenas com as páginas do livro, de um padre. Imagino homens e mulheres subindo e descendo aquelas escadas durante esses 500 anos. Crianças inventando brincadeiras com o barro, com os galhos, com a imaginação livre. Quantos sonhos tiveram seu começo e o seu fim naquele sótão? Quantos olhares foram lançados à margem do rio, prevendo o futuro dos povos? Quantos corpos estiraram-se sob o alpendre, com vistas ao céu de mil estrelas? Aquela casa rodeada de índios, tribo mãe e tribo pai de nossa existência. Índios bravios que olhavam curiosos àquela gente que se aproximava. Gente de corpo coberto, uns se fizeram de amigos e amigos foram, pois cedo ou tarde eles se encontrariam; outros se fizeram de amigos e amigos não foram, julgavam-se superiores, iluminados. Desbravaram as terras brasileiras em busca de riquezas. Encontraram. Levaram. Gozaram. Deixaram-nos a cultura, mistura de raças, panelão de tudo mexido. Bom ou ruim, sinceramente, eu não sei. O fato é que talvez no futuro falte-nos alimento, para a alma e para o corpo, e será no retorno ao nosso passado que encontraremos forças para lutar. Ah, zona leste, os teus filhos nasceram da flecha de um índio. Outras cores, outros objetos, outras palavras juntaram-se à flecha lançada ao ar, contudo, o primeiro quem a lançou, definitivamente, foi um índio.

domingo, 22 de abril de 2012



A chuva
Cai sobre o dia
Feito luva

E a chuva
Cuja mão é o dia
às vezes doída
às vezes arredia

A chuva enruga
A mão
Fria
Fina
À beira da tina

A chuva ressaca
A mulher
Esguia
Fria
Escusada à tina

terça-feira, 17 de abril de 2012

SoNho SONHO s o n h o SO NHO SoNhO

Estava eu numa sala – não parecia ser a da minha casa, mas, por eu estar tão a vontade, talvez fosse - sentado em um sofá. No da frente minha prima de cabeça abaixada, enquanto outras duas primas minhas em pé a frente da instante; uma querendo ir embora, e a outra me entregava dois bombons de chocolate branco. Se for pra escolher, eu prefiro realmente chocolate branco. De repente decido sair do apartamento, já não era mais casa. Eu, duas senhoras, uns amigos e outros não reconhecíveis, precisávamos levar uns cães nalgum lugar. Descíamos a rua de terra. Um casal com seus filhos andavam a nossa frente, eles também levavam uns cães. Ao fim da rua, tinha um gato em pé em cima do muro, dum terreno baldio ao lado. O gato abria a barriga e retirava, com as próprias patas, os filhotes que nasciam. Enquanto isso o casal da frente deixa os cãezinhos no terreno e entra num carro preto que vai embora. Cruzamos a esquina à direita, o cãozinho que estava no colo da senhora virou uma criança, ou algo parecido. Era noite, estava tudo escuro, a senhora decidiu ir até uma casa... Ah, tudo bem. Ela ia carregar o bilhete único. A outra mulher acompanhou-a. Paramos um pouco a frente para espera-las. Os não reconhecíveis continuaram caminhando. Eu esperei um pouco, mas logo depois fui segui-los. Entrei em ruas movimentadas, tipo calçadão de centro comercial, daqui de São Miguel mesmo. No entanto, não vendiam nada. Parecia mais uma festa. Eu não podia marcar bobeira em lugar desconhecido. Resolvi dar a volta no quarteirão e reencontrar os amigos que ficaram esperando as senhoras. Os não reconhecíveis? Eu já havia os perdido de vista. Tentei dar a volta no quarteirão, muita gente, e todas elas pulando; parecia aqueles bate cabeças, sabem? Então, depois ficou confuso e não me lembro. Só sei que saí daquele lugar. Um rapaz apertou-me a mão na saída, e fui até a esquina na qual os amigos tinham ficado. Antes não era bem uma esquina, agora era uma esquina com uma loja, mas tudo bem. Eles estavam dentro da loja, o dia já amanhecera. Pareciam vestir roupas branca e azul, igual aquele uniforme da Casas Bahia. Eu precisava falar com eles, avisá-los que eu estava por ali. Pensei em correr, passar por cima dos móveis da loja até chegar a eles... Não deu, acordei.
Melhor do que tentar colocar um elefante dentro de uma caixinha de fósforo ou fugir de uma bola de bilhar gigante me perseguindo.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Falo melhor calado!

Vou a lugares agitados de modo que eu possa pensar em silêncio. Não o agitado de um show de Have Metal, mas o agitado de um bom bar bem básico. O silêncio anda por todos os lugares. Ninguém lhe dá atenção, passa-se despercebido. Procuro aprender com o silêncio. Gosto de ver as pessoas passarem, outras conversarem. Não sou muito simpático a longas conversas, seguir noites adentro com pessoas que não param de falar comigo. Prefiro reparar nas pessoas que conversam ao meu lado, mas nada de ficar a minha frente falando, falando e falando. É por isso que costumam me dizer que sou calado, quietão. Faz-me bem observar tudo que está ao meu redor, e para observar devo me calar. Não sei por que as pessoas falam tanto. Até os mudos falam demais. Não param de chacoalhar as mãos, aqueles dedos apontando pra cima e pra baixo sem sossegos. O problema é que se eu encontrar alguém igual a mim, não sai palavra alguma. Caso contrário, paro o tempo e fico o tempo todo escutando. Concordando sempre com um enfático presente do indicativo do verbo ser: é. Nas muitas vezes, entro em estado de transe, abandono meu corpo e, consequentemente, os amigos que sentam a mesa. Fico ali de corpo presente, no entanto, minha mente debruça-se para controlar os mil demônios que carrego. Entre um bar e outro, entre um gole e outro, as pessoas falam pelos cotovelos. Não sei o que se passava na cabeça de Deus quando criou o homem. E naquele zum zum zum de palavras cortadas entre dentes, as gargalhadas abrem-se, os olhos revelam-se e o sonho continua. E o meu copo cheio sobre a mesa dura tão pouco quanto o instante das coisas. Sirvo-me da cerveja e das pessoas que duram naquele instante. Não sei até onde vai a minha mente. Às vezes tenho medo de ficar preso por lá. Tudo se torna silêncio. É como se apertassem a tecla mudo. As coisas esvaziam-se feito um balde no qual se retira a água. Feito um corpo sem alma. E num piscar de olhos, volto ao mundo. Volto ao silêncio do instante, ao falar e falar das pessoas, dos objetos, do balcão, das luzes. Calado eu falo muito. Calado eu controlo os demônios que os anjos trouxeram-me quando criança. Calado eu vejo a alma que as coisas têm. E depois de alguns copos de cerveja, a alma das coisas faz questão de ser vista. A alma só não se revela quando as pessoas falam sem parar, quando não se escutam. O silêncio é a prece da alma.