terça-feira, 1 de maio de 2012

Idas e vindas,
à Casa Bandeirista do Tatuapé
Nunca imaginei que sentiria o que senti. Aquelas paredes, aquelas portas, a mesa, a escada, o chão... O que guardam? O que escondem? Se tivessem bocas, contar-nos-iam historias de outrora. Historias de um passado que nos passa despercebido. Abandonado feito trapo jogado no quintal. Percorrer a mão sobre aqueles moveis, é sentir as mãos que se debruçaram ali, é sentir as marcas e as cicatrizes do tempo invadindo a alma. Quantas mãos abriram e fecharam aquelas janelas com medo da chuva forte ou à espera do sol caloroso? As mãos delicadas de uma linda mulher; as mãos calejadas de um tropeiro cego de fome que se achegou à procura de comida; as mãos lisas, acostumadas apenas com as páginas do livro, de um padre. Imagino homens e mulheres subindo e descendo aquelas escadas durante esses 500 anos. Crianças inventando brincadeiras com o barro, com os galhos, com a imaginação livre. Quantos sonhos tiveram seu começo e o seu fim naquele sótão? Quantos olhares foram lançados à margem do rio, prevendo o futuro dos povos? Quantos corpos estiraram-se sob o alpendre, com vistas ao céu de mil estrelas? Aquela casa rodeada de índios, tribo mãe e tribo pai de nossa existência. Índios bravios que olhavam curiosos àquela gente que se aproximava. Gente de corpo coberto, uns se fizeram de amigos e amigos foram, pois cedo ou tarde eles se encontrariam; outros se fizeram de amigos e amigos não foram, julgavam-se superiores, iluminados. Desbravaram as terras brasileiras em busca de riquezas. Encontraram. Levaram. Gozaram. Deixaram-nos a cultura, mistura de raças, panelão de tudo mexido. Bom ou ruim, sinceramente, eu não sei. O fato é que talvez no futuro falte-nos alimento, para a alma e para o corpo, e será no retorno ao nosso passado que encontraremos forças para lutar. Ah, zona leste, os teus filhos nasceram da flecha de um índio. Outras cores, outros objetos, outras palavras juntaram-se à flecha lançada ao ar, contudo, o primeiro quem a lançou, definitivamente, foi um índio.

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