sexta-feira, 15 de julho de 2011

rosa

Onde há a rosa?
Não a vejo entre nós
Não a está no telhado,
Pois há muito não a está no jardim
Não a desejo rosa,
Tampouco vermelha
Só desejo a rosa
A rosa das marias
A rosa dos josés
Duas sílabas: ro-sa
Quatro fonemas: r-o-s-a
Caso a encontre
Afinal, o que direi?
A rosa não está na rosa
Está na maria das rosas
Está no josé das rosas

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O garoto de ontem sempre será mais resistente que o homem de hoje.


No ensino fundamental 1, eu era o tipo do aluno exemplar: fazia de tudo e de tudo fazia, bem. Na quinta e na sexta séries foi um pouco diferente, mas ainda continuava sendo um bom aluno. Dos seis anos de colégio, o que me lembro, claramente, é do verbo CORRER. Eu o dominava em todos os sentidos: no intervalo, correr; ir à escola, correr; voltar da escola, correr. Na minha casa também: no quintal, correr; da sala à cozinha, correr; tomar banho, correr. E na rua mais ainda: brincadeira - óbvio -, correr; buscar pão, comprar cigarro (cigarro para minha mãe), entrar e sair de casa;  tudo tudo tudo era correr. Quando eu corria, eu me sentia livre, minha mente me levava a lugares incomuns. Eu conversava com os vivos; e muito mais com os não vivos, pois eram os únicos que me escutavam. A grande maioria das pessoas não tinha tempo para escutar as minhas viagens. Passava horas e horas batendo um papo com os meus bonecos, que não eram muitos e nem tecnológicos (graças a deus), mas eram verdadeiros. E todos, sem exceção alguma, davam-me atenção.

Chegou a sétima série, meu deus. Já não aguentava mais aquilo. Pela manhã, no caminho da escola, eu e o Mike íamos brincando de chutar entre as pernas um do outro qualquer objeto da rua: latinha, garrafa, até pedras. Contávamos quem daria mais "sainhas" no outro. Era toda alegria, o sol chegando e esquentando aquela manhã. Ah, é claro, eu sempre ganhava (ainda bem que sou eu quem escreve esse texto) haha. Tudo seguia tranquilo até o momento que atravessávamos o portão da escola. A coisa começava a ficar sombria, gelada. Aquele espaço de aprendizagem era o oposto do meu mundo. O meu mundo era o sol, a bola de futebol, os pés descalços sujos e cheios de feridas. O meu mundo era construir batalhas intermináveis com as surpresas do “Kinder Ovo”. O meu mundo era fantasiar que a cada pulo que eu dava da escada na porta das vizinhas à calçada, eu flutuava e caía lentamente. É verdade, eu conseguia pular em câmera lenta. E o meu mundo só perdia forças quando eu atravessava o portão da escola. Cheguei à conclusão, ali estava o meu ponto fraco, deveria de uma vez por todas abandoná-la para que, definitivamente, eu pudesse continuar livre.

Oitava série, abandonei a escola. Dois dias de aula, dois dias de falta. Somando os três anos de Ensino Médio, não se chega a um. Sei que fiquei a desejar no domínio da norma culta, no entanto, foi nesse período que conheci a música (num ouvido, Facção Central; noutro, Chico Buarque), o teatro (da Oficina Luiz Gonzaga - São Miguel - fui a um Sarau na Penha, e até hoje vive na minha mente aquela atriz contando o "Conto de verão Número 2, Bandeira Branca", de Luís Fernando Veríssimo), a política (peguei da casa da minha tia e não devolvi nunca mais o jornal "O socialismo e o Homem Novo"). Enfim, tive contato com aquilo que a escola não queria que eu tivesse: educação, arte e política. E mesmo hoje, no egocentrismo e no consumismo exacerbados, estou-me livre. Pois a consciência oferece isso, às vezes ela é ingrata, mas no fundo é ela quem sempre quis a mim distância daquela escola (quiçá dessa). Sendo assim, agradeço ao garoto de ontem, porque o homem de hoje não é tão confiável.

Sempre estar livre, livre a correr...

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Alucinações


Há no quarto um garoto abandonado,
Do lado de fora o ladrão pula no quintal
Para roubar as flores que estão no canteiro do jardim.

No entanto, não há quarto algum,
Nem garoto e tão pouco abandonado
E não há ladrão pulando no quintal
Porque não há jardim, nem canteiro,
E muito menos flores.

Contudo, hoje sei que sempre existiu
                           o quarto
                                              o garoto abandonado
           o ladrão no quintal
                                                   o jardim
                 o canteiro
                                         as flores...
Tudo, enfim
Nas minhas alucinações

Lázaro

Sobre a face outra face
De tristeza e abandono
Afogada no mar
Da ilusão e do sonho

Na imagem o pecado
Sem sua distinção
A vida ainda esta viva
E a morte enquanto espelho

Feito um bicho correu
Para que o sol não veja
Teu semblante rompido
Maltratando o destino

E noutra madrugada
Rezava feito gente
Sendo cristo um irmão
Curador de enfermos...

sábado, 2 de abril de 2011

Amor do Século XXI...

Difícil é explicar o amor. Se é que o amor tem explicação. Ele costuma aparecer nas formas mais esdrúxulas (sempre quis escrever essa palavra); bizarra, isso mesmo: bizarra; cômoda, quase 100% das vezes são cômodas. O amor também tem suas vitalidades, seus fervores ardentes de desejos loucos e impulsantemente afoito, de ranger os dentes, sexo! É claro que estou dizendo daquele amor entre homem e mulher, mulher e homem; e até outros, que não é do meu tipo, mas respeito. Às vezes nos deparamos com pessoas que, certamente, levam-nos a crer que são para o resto da vida. No meu caso, o probelma maior é que todas as garotas que conheço são para o resto da minha vida, no entanto, não aguento alguns dias. Eu sempre deixo bem calro o que os astros dizem "Olha, meu amor, eu sou meio complicado, nem eu mesmo me entendo. É que meu signo é gêmeos e o meu ascendente é peixes. Entende? Nem queira! É impossível enteder um geminiano com o ascendente em peixes". Dizem que é desculpa minha. Que não sou de compromisso. Mas, agora, vou dizer a verdade!! Veja se tem cabimento uma coisa dessa. Eu convido uma moça para irmos ao teatro. Ela aceita, com aquela cara de quem se pergunta "Teatro? Nossa que chatice". Digo maravilhas sobre teatro, o quanto se desenvolve quando estamos em processo de criação. A riqueza de se colocar em outras situações. A beleza de ser o outro. Ser velho, mulher, rico, filho de uma puta... Ser tudo aquilo que a sociedade impede que eu seja. Posso até voar!! Ah, legal, diz ela. "Mas é muito chato ficar aqui sentado, sem fazer nada. Da próxima vez vamos pro funk no Vila Mara?". Dai-me paciência, senhor.
Uma outra vez, fui ao shopping, não é minha praia, mas fazer o quê, com uma garota que a conheci através de um amigo. Lindíssima ela é! Depois do filme, que nem prestei atenção, caminhamos pelos corredores. Eu louco para ir embora. "Eu gosto é de boteco, porra." Pensava a toda hora. Disse-lhe coisas ao ouvido que faria qualquer mulher sentir-se amada. Falei de seu sorriso. Do contorno da boca, mordi-a suavemente. Dos olhos que brilhavam, brilhavam mais que as luzes da vitrine. Tocava os seus cabelos, cabelos que ganhavam vida naqueles corredores, cabelos negros. No auge de tanta inspiração ela me questiona: "Ai, credo! Você nem reparou na minha blusinha. É da Vougue. A calça, Forum. E o meu celular, um V3, não é lindo? Você tem celular? O meu tem internet... Peraí, peraí..." O que foi? Eu lhe perguntei. "Eu não postei nenhuma mensagem no twitter: 'Oi, pessoal, estou no shopping com uma pegada'". É o que?
Vocês me entendem agora? Vai pra puta que a pariu. Não sou eu que sou complicado, é o amor de hoje que tá chato pra caralho!!!!!!

sexta-feira, 25 de março de 2011

ANALFABETO POLÍTICO

O pior analfabeto é o analfabeto político .

Ele não ouve, não fala nem participa dos acontecimentos políticos .

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas .

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política .

Não sabe o Imbecil que de sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante, o corrupto das empresas nacionais e multinacionais e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista e pilantra .
( Bertold Brecht )


DISCUTIR POLÍTICA É UMA ARTE.
SABER RESPEITAR AS DIVERGÊNCIAS DE IDÉIAS É COERÊNCIA.
AGREDIR É FALTA DE EDUCAÇÃO, PRINCÍPIOS E ARGUMENTOS.

quinta-feira, 17 de março de 2011

OLHOS


Na cidade em que nasci,
Foram tantos olhos:
Os olhos do padre
Da garota
Da vizinha fuxiqueira
E os olhos do cachorro?
E os olhos mortos de um cego?
Até os olhos do manequim
Todos me envergonhavam...
Mas, de todos os olhos,
Os que mais me repudiaram foram os olhos da Piedade!
Esses não!
Não os quero nunca mais.
(Por favor, Senhor! Não os deixem que me vejam novamente)


E na rua do Servidor Público,
que por sinal a desço e a subo em passos largos,
Há olhos, olhos que me vêem...
E na correria dos corredores do Santuário Medicinal,
onde há um semi-deus!
Os olhos encontram tempo para ver-me...
Sentado. Não os temo. Devo encará-los.
Na recepção
Atrás do vidro
A recepcionista
de olhos claros; serenos; calmos; leves...
Dão-me medo, pois não param de me olharem...


Prendi-me a tantos olhos,
Esqueci-me de ouvir uma voz a sussurrar
(essa vinda de um anjo de olhos caídos e cansados),
Dizia-me:
- Olhe... Olhe... Tu não és o único que teme aos olhos...

Estou gostando desse negócio de blog... rsrs Esse poema é tipo "decifra-me ou eu te devoro".

Vinte e duas letras de amor

Galileu Galilei da Galiléia...
Sabes quem foi?
Bobagem. Esqueça. São bobagens (...)
Pobre são teus rins!!
Pintinha, veja as estrelas.
Acerte-as, não tenha medo.                             
Tu és bela. És corajosa.
Sangrou a pele para carregar anjos...

Tu bem que poderias cantar para mim.
Canções amigas, amadas, amantes.
Estrelas? Eu não mais preciso delas.
Pegue os teus tesouros. Plante-os!
Silêncio, agora. Atenção! Essa cena é a melhor.
“O doido tá endoidando... doidinho ele...”
Levas jeito para artista. Queres? Que linda!

Já desenhei no papel a nossa casa.
Poderíamos construí-la do teu jeito.
Com muitas Luas no teto e o Sol na entrada...
No quintal muito verde com flores de azeviche...
Ao redor da casa, rios e cachoeiras... “Ora iê iê io!”
“Mas, meu rei, nós iremos comer o que?”
Sonhos... Todos os tipos de sonhos... Minha rainha...

domingo, 13 de março de 2011

Grande pequeno homem

       João Trago Dolores, exemplo de brasileiro que contribui para o desenvolvimento do nosso país. Ótimo funcionário. Assíduo, pontual, compromissado em manter a boa imagem. Também o é, comportado cidadão e sensato pai de família. Em dia com todos os impostos: água, luz, telefone, IPTU e também a mensalidade da escolinha das crianças - ele é muito prestativo com os filhos. João Trago é o típico cidadão que nossa estrutura social globalizada constrói: tem forma, mas não tem conteúdo.
       Toda manhã quem o acorda é o chuveiro e não o despertador. Sua meditação é vital para o início do dia. São horas concentradas no banho. A água do planeta deveria rebelar-se. Dizer não! Aí eu queria só vê. As horas de meditação cessariam. "Chega! não mais refrescaremos seus corpos. Greve absoluta. Nos tratam com desdém. Nós cortamos o mundo todo. Lavamos cada porcaria que vocês nem imaginam. E o que ganhamos? Ralo. Escorremos pelo ralo. Ninguém se importa com a água. A cada dia perdemos o nosso espaço. Numa cidade como São Paulo, só 17% das indústrias tratam seus esgotos; 83% jogam nos rios toda a sujeira que produzem... BASTA! Viva a revolução!" Já pensou se isso acontecesse? Deixa pra lá. Ao abrir o portão de sua casa, João aprecia o primeiro cigarro do primeiro maço do dia. Apreciado, lança a bituca na rua. João, João, meu velho. Se é que me permite chamá-lo assim. Quantas bitucas são abandonadas por seus donos? Milhares de fumantes cada qual com, no mínimo, 20 bituquinhas jogadas nas ruas por dia. Mas esqueça. Quem sou eu para intrometer-me na sua vida.
       Já dentro do seu meninão - é assim que João chama seu carro, a forma carinhosa é para amenizar a idéia de  posse - segue em direção ao escritório. Não há tempo de observar a paisagem. Toda atenção aos semáfaros, ao celular que não para de tocar, às estações de rádio que embalam o início de mais um dia. Não existe uma única vez que João não vai à padaria, antes de subir ao escritório. No balcão, toma o seu café com a mesma confiança de sempre. Assiste ao noticiário com a mesma confiança de sempre. Tem total conhecimento da política nacional, quiçá mundial. Inflação, investimento, situação socioeconomica e todas essas complicações do homem moderno. Porém, falta a ele algo mais. O pensamento é pequeno para interpretar os códigos: sinais de fumaça, ecossistema ameaçado, instabilidade climática, desmatamento - nossos bosques têm menos vida e nossos campos menos flores... "Eu é que não posso salvar o mundo." João, meu caro amigo. É claro que você pode! Tens a chave. Não desanime, meu rapaz. Afinal, o que é a alegria? O que é o sonho? O que é o mundo para ti, Joãozinho? É o gozo da sobrevivência forçada, alienada, alucinada, nada vezes nada. É o anseio dos nove meses, rasgar o ventre e abocanhar a vida. Para quê? Para fechar-se no útero que criastes. Desprendeste-se do cordão umbilical para atrelar-se a tantos outros. Há liberdade nas matas, há frescor nas folhas, há vida que rugi, uiva, grunhe... FALA!! Desculpe-me, desculpe-me. A emoção foi mais forte. Nem o conheço ao ponto de deixar extravasar meus sentimentos. Não quero confundir as coisas. Sou apenas, e serei sempre, o narrador dessa tentativa frustrada de crônica. Nada mais que isso.
       No escritório, João Dolores sente-se em sua casa. Sua mesa é sua amante. Deixa-o excitado. Faz todo o serviço com muito zelo. Tudo para ouvir do chefe "Esse é meu meninão".
       - Fechem as janelas, liguem o ar condicionado. Esta cidade fede!
       Não se esqueça, sr. João. O teu mundo não está fora desta cidade. É parte integrnte dela.
       - Droga! Derrubei café na mesa. Marinaaaaaaalva! Onde ela está. Vou usar essas folhas de sulfites para limpar a mesa.
       Quantos distraídos não derrubam café nos lugares mais desapropriados. E quantas árvores não serviram para nada. A não ser para limpar o café esparramdo sobre a mesa. Entre o céu e a cadeira que a acomoda o seu traseiro há mais mistérios do que sonha a nossa vã filosofia. Olhando pela janela, ele, agora, vê a cidade. Ela é cinza. É suja. Há, tão somente, um verde por detrás dos prédios. Esquecido. A cidade, Joãozinho - ram ram (tentativa onomatopéica) - quero dizer : sr. João Trago, é um espelho. Há quem veja e se esqueça da imagem. Ela sempre será aquilo carregamos conosco. A vontade infinita de nos encontrarmos. Vossa senhoria prefere a sala com ar condicionado, fax, computador, impressora... Tudo consome o mundo? Será isso mesmo a realidade? Não! Calma, você está me deixando confuso.
       - Desperdicio que nada, do pó ao pó.
       É essa a tua filosofia? Tudo bem. Cada um tem a sua opinião. No entanto, "quando o julgarem, seja condenado; e, tida como pecado, a sua oração... Fiquem órfãos os seus filhos, e viúva, a sua esposa. Andem errantes os teus filhos e mendiguem, e sejam expulsos das ruínas de suas casas..."
       Ao final do dia, João Trago Dolores enconra-se com a mulher e os filhos no shopping. Degustam as iguarias naturais para homens naturais. No caminho para casa:
       - Papai, diz sua filha, onde jogo o lixo?
       - Joga pela janela, filinha. Na rua mesmo.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Por que eu, que não tenho paciência com a internet, fiz um blog?

Sinceramente, não sei. Sinceramente, até sei. Talvez seja para postar o que tento escrever desde que me conheço por gente. Sempre deixei guardado na gaveta do armário da minha cabeça. Então, antes que eu me encontre caído pelos cantos da minha mente, achei melhor espalhá-los. E hoje, muito dos contatos que faço ou os eventos que acompanho são informados através da internet. Se quero saber a respeito das apresentações do "Suburbano Convicto", "Os Mesquiteiros", "Tenda Literária", acesso a internet. Debates e atividades sobre Educação, Cultura, Política, acesso a internet. Comunicação com os camaradas da OPSIS, do MULP, da MÚSICA, acesso a internet. Cursos? São vários: da astronomia ao uso medicinal das plantas... Uso em meu benifício o que serve de malefício em outros casos. E também tomei a coragem depois que acessei o blog "ALCOVA CRANIANA", Bruno Oliveira, amigo desde a época de faculdade. De fato, vi que preciso melhorar minha escrita. Ando lendo muito e escrevendo pouco. Ultimamente, guardo tudo na cabeça. Percebo que estou ficando com a memória fraca, sinal que corro o risco de esquecer as coisas que trago na cachola. É claro que isso não faz diferença para ninguém. Mas quem me conheço sabe que eu não ligo a mínima para o que os outros irão pensar sobre o que escrevo. Escrever é uma necessidade minha. É que nem ir ao banheiro. Faz diferença se alguém lhe dá importância a respeito da sua ida ao toalete? Não! É uma necessidade fisiológica. Pronto e acabou.