quinta-feira, 17 de março de 2011

OLHOS


Na cidade em que nasci,
Foram tantos olhos:
Os olhos do padre
Da garota
Da vizinha fuxiqueira
E os olhos do cachorro?
E os olhos mortos de um cego?
Até os olhos do manequim
Todos me envergonhavam...
Mas, de todos os olhos,
Os que mais me repudiaram foram os olhos da Piedade!
Esses não!
Não os quero nunca mais.
(Por favor, Senhor! Não os deixem que me vejam novamente)


E na rua do Servidor Público,
que por sinal a desço e a subo em passos largos,
Há olhos, olhos que me vêem...
E na correria dos corredores do Santuário Medicinal,
onde há um semi-deus!
Os olhos encontram tempo para ver-me...
Sentado. Não os temo. Devo encará-los.
Na recepção
Atrás do vidro
A recepcionista
de olhos claros; serenos; calmos; leves...
Dão-me medo, pois não param de me olharem...


Prendi-me a tantos olhos,
Esqueci-me de ouvir uma voz a sussurrar
(essa vinda de um anjo de olhos caídos e cansados),
Dizia-me:
- Olhe... Olhe... Tu não és o único que teme aos olhos...

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