terça-feira, 8 de janeiro de 2013


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Quando o dia se debruça sobre a varanda do nosso apartamento, penso de que vale o pronome possessivo “nosso”. Não só esse, mas todos os pronomes e as palavras que determinam posse. Minha namorada, meu carro, nossa religião, teu status social... Essa varanda não manda no dia que se abre, nem tão pouco sou o dono desse sorriso que traz consigo. Não me sinto bem comigo ao saber que as pessoas, os objetos, as coisas desse e de qualquer outro mundo não são livres. É claro que o apartamento não sairá andando a torto. Não descerá a rua em direção ao farol da avenida. Foi apenas um motivo para pensar. Essa varanda não é minha, não me sinto dono também da flor no vaso. Nem do vaso, nem da terra, muito menos dessa porta de correr que apertei o parafuso na semana passada. No entanto, eu não aceito que qualquer pessoa fale da nossa vida, do nosso apartamento, e que não ousem falar mal da nossa varanda. A porta de correr travou novamente, eu não apertei muito bem o parafuso. Não importa, é nossa porta de correr na nossa varanda onde o dia se debruça. Onde sempre se debruçará...
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