terça-feira, 26 de novembro de 2013

Poemia & Boesia


Felicidade

II

Basta saberes que és feliz, e então
Já o serás na verdade muito menos:
Na árvore amarga da meditação,
A sombra é triste e os frutos têm venenos.

Se és feliz e o não sabes, tens na mão
O mais bem entre os mais bem terrenos
E chegaste à suprema aspiração,
Que deslumbra os filósofos serenos.

Felicidade... Sombra que só vejo,
Longe do Pensamento e do Desejo,
Surdinando harmonias e sorrindo.

Nessa tranquilidade distraída,
Que as almas simples sentem pela Vida,
Sem mesmo perceber que estão sentindo...


LEÔNI, Raul de. Trechos escolhidos. Luiz Santa Cruz (org.). Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1961. Coleção Nossos Clássicos, Volume 58.

11 comentários:

  1. Belezura! Finalmente o bate-papo aqui, neste espaço virtual, se inicia.

    Pô, francamente, fiquei encucado com o poema acima: a Felicidade é, realmente, um estado que transcende a racionalidade?? É tipo um Nirvana que somente almas simples têm acesso?? Você só é Feliz sendo e não sabendo?? É isso mesmo?!?

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  2. Pô, Xara!!! Eu acho que ela, a felicidade, não transcende, cara. Eu vejo diferente. Na minha minha opinião, a felicidade, de acordo com o q eu senti do poema, é IMPENSÁVEL... Não se deve pensar a felicidade. Ela não chega ao Nirvana; ela não está aos nossos pés. A felicidade é aquilo que não se busca... Ela é o que se vive... inocentemente... Sem perceber que ela está ao redor... EU ACHO!!! rsrsrsrs

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  3. Muito bom! É como aquela frase: a vida é o caminhar e não o destino. Felicidade, penso eu, é estar bem sem motivo. Um simples e profundo estar bem.

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  4. Certo. Pensei também nessa tal inocência. Imaginei as crianças brincando nessa outra sombra, longe do Pensamento e do Desejo, que o eu-lírico aí invoca. Afinal, ser criança e ser feliz e não saber que é feliz, não é verdade? A felicidade já faz tanto parte desses pimpolhos que se a arrancarmos, a criança não será mais criança, já será outra coisa...

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  5. A Bárbara definiu muito bem: "Um simples e profundo estar bem."

    Saber que está feliz é venenoso... Assim como aqueles que meditam em busca de alguma resposta, é possível que eles tenham frutos venenosos como resposta. A primeira estrofe diz tudo. O terceiro e o quarto verso explicam como é quando já nos julgamos felizes. Não sei vc, Xará!! Mas esse poema me deixou muito encucado... Eu viajei um tempão apenas na primeira estrofe... Loko demais!!

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    1. Eh, um simples estar bem, e não perceber isso. Concordo. Por isso, ainda acho o estado de Nirvana válido, porque quem o atinge não percebe que o atingiu.

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    2. Ah, sim. O Nirvana é válido... É uma entre tantas outras interpretações...

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  6. "Deitar-se à sombra triste dessa árvore" e ousar comer os venenosos frutos da meditação, é despedir-se da felicidade pura! "Pensar é estar cego dos olhos", Fiquemos longe do "pensamento e do "desejo". Pensar em desejar é amaldiçoar a si mesmo! Gostei dos comentários! Sinto-me feliz por eles, ( pena eu ter consciência dessa felicidade!" rsrsrs) Tinha preparado aqui um longo comentário, mas ao clicar em publicar, por não estar logado, tudo se perdeu. Enfim, deixo aqui a frase que foi seu desfecho: Será que Raul de L. pensou nele ou nisso ao escrevê-lo?

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  7. Intuição

    Busco a Felicidade intuitiva
    Aquela sem motivo aparente,
    A que não sinto, pois ela me sente!...
    Deixando-a suspirar, sentir-se viva.

    Não ir ao encontro dela lhe cativa,
    É como uma borboleta displicente,
    Pousando em nosso ombro, docemente!
    Mas ao notá-la, logo se esquiva.

    Errôneo é intensamente desejá-la;
    Glorioso é tê-la e nunca esperá-la,
    Quiçá esse seu nome, nem bem seja.

    Destruí-la é meditar sobre sua causa,
    Mas antes de espantá-la, faze uma pausa
    Verás que ser si mesma é o que deseja!...

    ( Queiroz Filho)

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